Coragem para mudar e olhar para o futuro
A maior empresa de saneamento das Américas, corajosamente, fez uma grande virada em seu modelo de gestão em meados dos anos 1990. De uma empresa centralizada com poder de decisão concentrada nas mãos de poucos dirigentes, a SABESP transformou-se para atuar por unidades de negócio organizadas por bacias hidrográficas. Essa base possibilitou a geração de resultados extremamente positivos nos últimos 26 anos: a aproximação com o poder concedente, o equilíbrio econômico-financeiro, o foco no cliente, a rentabilidade positiva e os maiores investimentos em saneamento no Brasil.
Os desafios e as transformações deste período são utilizados como referências em pesquisas sobre o saneamento. O quadro técnico e de liderança da empresa, que possuem reconhecimento nacional e internacional, têm condições para contribuir decisivamente na definição da próxima transformação necessária para o novo contexto que se apresenta para o saneamento básico brasileiro.
O modelo atual foi essencial para o sucesso em vários momentos decisivos. Destacamos, entre outros: entrar no mercado acionário (B3 e Nova Iorque); alcançar o reconhecimento da sociedade (a segunda empresa pública mais confiável de São Paulo); ter os clientes como foco das premissas de melhorias; e superar a maior crise hídrica de todos os tempos (2013-2015).
Entretanto, coloca-se agora um novo desafio com as mudanças no Marco Legal do Saneamento, fato esse que demanda o aperfeiçoamento do modelo de atuação, buscando ampliar a velocidade e a simplicidade para um ambiente ágil, arrojado e competitivo. Mudanças significativas foram introduzidas na gestão do saneamento básico, dentre elas a vedação da utilização do instrumento de contrato de programa com o Município em favor da prestação de serviços exclusivamente por meio de contrato de concessão através de licitação, impactando diretamente na forma de atuação das empresas operadoras de saneamento estatais.
Os municípios não podem mais fazer contratações diretas com empresas que não façam parte de sua administração, isto é, deverão exercer o papel de operador com a administração direta ou contratar o operador de saneamento através de processo licitatório.
Atualmente a SABESP opera 375 municípios, 365 deles mediante contratos de programa com prazos de vigência, em sua maior parte, para além de 2035. Se por um lado surgem no horizonte riscos para redução de sua base operacional, ou para reduzir-se a uma operadora estatal de municípios deficitários, por outro, se abre uma janela de oportunidade de crescimento para mais de 300 municípios no Estado de São Paulo e outros quase 5 mil municípios no Brasil.
A SABESP precisa definir, antes de qualquer iniciativa de discussão sobre estrutura organizacional, quais estratégias serão necessárias para garantir a perenidade da empresa assentadas sobre um tripé de propósitos para sobrevivência, ou melhor, para o crescimento empresarial:
(1) qual estratégia para manter a operação dos 375 municípios atuais e cumprir as metas contratuais e de universalização?
(2) qual estratégia para expandir e levar o seu padrão de qualidade na operação de saneamento (água e esgoto) para todo o Brasil?
(3) qual estratégia para incorporar uma carteira de novos negócios relevantes, derivados de saneamento, ao pool de empresas do “Grupo Sabesp”?
O novo modelo deve contemplar fortemente uma gestão voltada para expansão de mercado e novos negócios com a estrutura necessária para focar no crescimento e na expansão das operações em novos municípios, participando de licitações ou articulando novos modelos de contratação, assim como para participação em projetos de novos negócios de geração de energia, água de reuso, resíduos sólidos, fertilizantes, serviços de afinidades, insumo na construção civil, fibra óptica nas redes de esgoto, geração de gás, entre outros.
Esse impulso de expansão tem potencial de receitas na ordem de bilhões que podem gerar resultados positivos para a empresa, paralelamente preservando a sua atual base operacional.
No Estado de São Paulo, as conexões e o relacionamento próximo com o poder concedente e a sociedade, exercido pelas Unidades de Negócio, podem (e devem) ser valorizados para manter as operações nos 375 municípios e para alavancar a expansão para os demais municípios paulistas.
Temos certeza que os sabespianos e as sabespianas estão à altura de mais esse desafio trazido pela alteração do Marco Legal, contribuindo para universalização dos serviços de saneamento em São Paulo e no Brasil.
A redefinição das diretrizes de gestão, dialogando com a modernização e a coragem de avançar, deve nos conduzir em direção a uma organização simples, ágil e eficiente, posicionando a Sabesp nos mais elevados níveis de protagonismo no setor de saneamento do Brasil.